domingo, 8 de maio de 2011

(DES)Enraizamento da ordem


Antes de mais nada gostaria de declarar meu sentimento de angústia perante aquilo que definitivamente eu preferiria ignorar como sendo realidade. Não sei se me causa angústia por não suportar ou por não querer outra coisa que não aquilo. Não sei se me angustia porque não é o que eu desejava, se me angustia porque cerceia meu pleno desenvolvimento, se me angustia porque é necessário. Sei que me angustia. Não lembro o exato momento em que começou a me angustiar, mas desde então é uma problema que diz respeito ao andamento da minha vida e suspeito que esse tipo de sentimento seja mesmo pertencente ao quadro geral da vida humana em grandes centros urbanos.
Talvez isso se gere pela manutenção de um vínculo entre as pessoas que traga uma instabilidade aos laços, essa insegurança acaba por se responsabilizar pela generalização da angustia. Mas então podemos nos valer de algumas perguntas,ao menos duas: porque aderimos a laços tão traiçoeiros, a vínculos tão estreitos e frágeis?. O que nos leva a nos incorporar em relações que sabemos que nos trarão prejuízos e nos deteriorarão?
Mesmo sabendo que quando nos voltamos para a aproximação de outras pessoas e de outras coisas estamos nos condicionando a aceitar uma certa temporalidade dessas pessoas e dessas coisas sabendo que elas podem vir a se deteriorar. Continuamos a nos voltar para situações que nos instauram preocupação, todos os dias estamos correndo alguns riscos, apesar de querermos sempre amenizar o sofrimento temos constrangimentos pelas condições diversas das coisas. Todos nossos vínculos estão permanentemente ligados a nós por essa temporalidade, que é própria das coisas e das pessoas, acarretando uma temporalidade para as interações. Além da temporalidade temos também como fundamental para o estabelecimento dessas interações a materialidade das realidades, das coisas e das pessoas.
Então cada tipo de laço, de vínculo teria uma temporalidade e substâncias que se correlacionam formando um sistema de significados que dependem das formas que adquirem esses laços. Para cada maneira diferente de laço que se estabelece entre os indivíduos e outros indivíduos e entre as coisas, percebemos um conjunto de significados dados a vontade e de maneira dispersa pela própria realidade das coisas e das pessoas. È preciso então que consigamos em primeiro lugar organizar as informações que são providenciadas pela nossa sensibilidade depois traduzi-las e estabelecer entre elas ligações lógicas que permitam entender os diferentes tipos de relações, comunicações e trocas que ocorra dentro daquele circuito relacional.
Quando ao invés de dar bom dia para o padeiro mando ele tomar no cu estarei de alguma forma interferindo, dentro do sistema de significados que fora garantido por aquela associação que existe entre eu e o padeiro, aquela associação que sempre mantive com ele, estarei então a interagir de maneira depreciativa com um elo já estabelecido, trazendo um tipo de interferência que aproxima a relação estabelecida de seu estado inicial que era a de dispersão pela realidade. Tanto eu como o padeiro não nos conhecíamos, mas por circunstâncias circunscritas dentro de um quadro de possibilidades, foi possível que esse laço se estabelecesse. Então o conjunto de significados que irá conduzir a relação será dado de acordo com o circuito de sentidos que provêm de coexistências múltiplas que tanto o padeiro quanto eu participamos, para então haver uma espécie de simbiose entre eu e ele. Trazendo particularidade para o tipo de laço, por isso é como se esses significados estivesses dispersos na realidade, sendo possíveis de serem absorvidos por qualquer indivíduo que também estivesse circunscrito nas mesmas possibilidades de coexistências. O que vale aqui é a realidade em que estão dispostas as possibilidades de interação, quais são os elementos necessários para a inscrição num circuito relacional.
A autonomia neste momento se volta para a livre apropriação de sentidos que vão conferir a existência sentidos regulares, ordenando de maneira orientada por paradigmas sócio-históricos as interações nas quais iremos interferir. Deve-se ter em mente que podemos a todo instante nos deter sobre outras perspectivas que não as propostas pelo sistema capitalista. A ordem estabelecida vigora como um dogma sem afetar os sentimentos das pessoas, não podemos nos acostumar com uma realidade baseada em princípios vazios e que se tornam obsoletos quando nos voltamos para a concretude das relações que se estabelecem em nome desta suposta organização/ordem. Andando pela rua vemos a mais perfeita desconstrução da obrigatoriedade de submissão as regras e leis que nos impõe os governantes. Como podem seres humanos morrerem de fome, de frio, de dor? Como entender as filas em hospitais que cada dia aumentam mais ? Como compreender o número de desempregados que confabulam sobre alternativas de reinserção social sem ter que depender de um sistema político-econômico que apresenta falhas claras em seu funcionamento? Como podemos acreditar em paródias constitucionais que não provém ao homem as suas necessidades mais rudimentares? Como obedecer governos e governantes, leis e juízos que vão de encontro a valores humanos como a liberdade, a igualdade, o coletivismo, auto-organização e a prosperidade geral dos homens que pisam em terra firme?
Quero desde o primeiro suspiro do dia pertencer aqueles que contemplam as virtudes das coisas procurando-as sobre suas próprias formas sem querer querê-las nem querelas, nem distanciá-las de seu substrato, de sua suma essência. Tenho por mim que só no embarque em busca da compreensão, do sentido e significado das coisas é que conseguirei trazer para minha existência uma satisfação, uma consistência de minha interação com as coisas. Então provavelmente essa angústia cessará.
Tramita pelo congresso da minha razão algo parecido com um lapso, um distúrbio: de um lado a minha vontade de buscar a verdade das coisas, aqueles caracteres que definem o que a coisa é e de outro a penetrante angústia ultrapassa os limites do conforto e acabam por me aproximar do processo de perda de identidade. Sinto-me angustiado por não conseguir penetrar o mais fundo possível em minhas formulações intelectuais conscientes, me deixo gerir pela irradiação de um propósito que me desconcilia de uma busca interior que possa remontar minha personalidade de maneira a me proporcionar um conhecimento de minhas capacidades claramente. Tento compreender o mundo e buscar a verdadeira essência das coisas para me libertar dessas amarras chamadas convenções esteriotipadas.
Temos um mal chamado ordem mundial que não quer mudar e que mantém sob seu julgo multidões de seres humanos que aderem a essas convenções restritivas - que são livremente acessíveis por poucos – mantendo milhões de pessoas dominadas pelo medo, pela ignorância, pela miséria, pelo desprezo, pela disseminação da angústia, pelo uso legítimo da força física. Devemos nos deter sobre a formação de nossa consciência e logo então enfrentaremos o problema da ação com objetivos mais nítidos do que aqueles formulados pelo sistema, não podemos nos deixar levar por pilares que põe em cheque a própria existência da humanidade. Seria como negar a própria vida, a própria capacidade de pensar sobre as coisas. A incapacidade de gerar de maneira autônoma as bases que irão alicerçar nossa ação sobre o mundo é uma motivação do aprisionamento de nossa consciência.
Temos que ir além daquilo que nos propõe os governos, ultrapassar as barreiras que impedem o arranjo popular dos trabalhadores e das massas, temos que gerir de maneira autônoma e refletir constantemente sobre o discurso que julgamos ser o correto, somos indivíduos dotados de razão e como tal precisamos tomar a frente no processo de consolidação de nossos direitos e deveres devemos estar presentes no processo de criação de nossa realidade material. Precisamos nos inserir em fluxos de sentidos e significados que correspondam a realidade de nossas buscas e de nossos objetivos enquanto seres humanos e que tragam para nossa existência a plenitude almejada.

3 comentários:

  1. boaa mieskalo!!! angustiante esse texto

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  2. Intencional.....não se precipite com a agonia...é efêmera...mas serve como modo de sáida da inércia...do comodismo....

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  3. Eu li, gostei do texto e do blog! São questões angustiantes, aflitivas... Me sinto impotente e apática a tudo isso. Mas somos atingidos direta e indiretamente dia a dia por toda essa conjuntura cruel. Ainda assim é preciso muita coragem pra ir na direção contrária e nadar contra maré. Vejo em vc alguém q se poem dessa forma. Pessoas assim podem fazer diferença. Apesar de sinceramente não acreditar q grandes mudanças ocorreram.

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