sexta-feira, 27 de maio de 2011

Desilusão

A métropole lhe fazia reescrever seus pensamentos,
tinha para si que tudo aquilo era apenas alvoroço 
de uma gente sem perspectiva, 
não via luz no fim do túnel, 
não via sequer luz. 
Apenas o túnel escuro, fétido, abafado, e sem fim, inexplorado.
Resolveu entrar para ver aonde ia, 
não chegou a lugar nenhum. 
Resolveu voltar.
Retornou a estaca zero.
Sua própria incompreensão, 
daquilo que lhe cercava.
Não se via dentro daquele universo de imensas construções, 
de um ensurdecedor e constante barulho que lhe emaranhava os pensamentos.
Sua aparência refletia sua insatisfação, 
seus atos já não mais tentavam resgatar as maneiras adequadas, 
segundo suas próprias convicções,
mas procuravam as formas mais expressivas que tinham suas experiências.
O amanhecer trazia aos seus olhos luzes, 
que desacostumados,
tardavam em perceber o reflexo que os lampejos do Sol lhe impunham
perante a obscuridão das enevoadas vistas.
Sentia-se sóbrio, 
como nunca, 
mas não conseguia exaltar sua capacidade,
tinha antes dela uma espécie de anteparo costumeiro,
aquele
vindo de olhares daqueles que não se deixam levar pela oportunidade de resgate de suas emoções. Remoía-se antes de se entregare
tinha motivo, 
a desilusão, antiga madame de companhia.   

Até então apenas trevas,
a solidão minha eterna companheira
sabia mais sobre o antes 
do que sobre o agora,
o futuro não era permitido vislumbrar.
Açoitavam-me
com a cólera de seus bordões
e de suas poses, aqueles que eram os detentores da ordem,
suas palavras eram bombas 
que tinham como alvo
minha sanidade.
Foi-se tudo virou pó!
Escândalos a parte
me tornei menos só.
Sabia-se lá para onde íamos,
importante mesmo era ir,
junto, indo
daqui para qualquer parte.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

analogicaMENTE

Via na multidão uma intensidade inexplicável,
parecia aquele agrupamento de seres humanos
um amontoado de pequenas explosões estrelares
e a cada nova explosão surgia um novo universo.
A cada novo universo tantos novos planetas
tantas novas estrelas, tantos novos sistemas de interação astral, 
que pareciam dar explicação a minha existência.
A interação ocorrida no universo será semelhante a interação que ocorre entre os indivíduos,
a lógica universal aplica-se a realidade terrena?
Parece existir uma simbiose entre as coisas que são regidas por esta lógica,
parece ser uma coisa que está dentro de nós, em nossa consciência, 
e na consciêcnia de outros homens e ao mesmo tempo
está no cosmos, no todo, nos astros
na existência de outros sistemas estrelares.
Analogia inveitável.

Espera

Tenho esperança em mim,
por ver em teus olhos o fim,
da procura, da tortura,
mesmo boquiaberto espero-te.
Sua chegada representa o alvorecer em meu peito palpitante,
sinto sua presença, o seu ser
sonho com inúmeras possibildades
mas converto-me a vossa morada,
por sua plenitude.
Aquilo que se sobrepõe a mim
também está em ti,
me perco no obscuro,
labirinto das nefastas oportunidades.
O tudo tornou-se perigoso e agora já não é mais nada,
tenho perto de mim a sensação de não ter sensações.
Sinto que não sinto.
Apelo para a irrealidade
para me apoiar no desconhecido
vidas inteiras se passam 
e continuo na mesma rotina.
Sou agora aquilo que já fui um dia,
fui outrora aquilo que experimento toda hora.
Espero o momento de exaltar a rebeldia 
de meus sentimentos que esperam reciprocidade.

Claro Claro

Todo aquele sentimento de sublime experiência transcendental,
foi embora!
Acumulou-se mais uma porção da matéria,
que sucumbiu diante a ladeira.
O árduo trânsito em que se encontra
as linhas navegantes do meu pensamento
impede que o raciocínio desestabeleça 
a construção hierarquizada e sedentária
em que se consolidou a coletividade humana.
Tramitam no congresso da razão críticas 
inalienáveis à realidade objetiva.
Surge como solução a entrega,
ao que poderia vir a ser a única possibilidade
de desestagnação da atividade comum dos homens,
seria a percepção das correntes de pensamento que nos assemelhamos
pelo seu caráter ético e moral.
Entro em eterna dialética sobre meu estágio
sobre minhas convicções, sobre o que é realizar,
para quem realizar, qual o objetivo da realização!
Nada disso importa nada vai mudar...quero dizer...
o único campo de atuação é sobre as consciências...
ecoam sinais de fumaça através das janelas da metrópole...
os primeiros raios de sol atingem o chão das salas...
Os olhos se abrem lentamente...
As primeiras buzinas anunciam o início de um novo dia...
São sete da manhã e a maioria da população ainda dorme!
Dona Gertrudes nem imagina o que estar por vir...


Engrenagem


Penso na engrenagem que rege meu instinto,
sinto seu movimento, percebo sua presença
é a lógica universal que sempre se mostra.
Linda, leve, sútil e suave,
a continuidade faz sua beleza resplandecer.
Queixo-me a eternidade por não ter paciência, 
a exatidão de seus passos procura o destino,
aquele mesmo de muitos tempos atrás
que estava escondido por detrás das constelações,
fez-se despercebido para se reconciliar
consigo mesmo e com toda a lógica,
com toda engrenagem que move,
move no sentido de alcançar o inesperado.
O despertar do dia enche meus olhos de lágrimas
pela esperança de me mover
na direção da fé.
Desocupo meus ombros com as dores de outrora
já posso sentir o gosto novo do doce.
Meus gestos cada vez mais ganham sentido,
relembro o quanto é satisfatório pensar na engrenagem que me rege.



domingo, 8 de maio de 2011

intervenções

(DES)Enraizamento da ordem


Antes de mais nada gostaria de declarar meu sentimento de angústia perante aquilo que definitivamente eu preferiria ignorar como sendo realidade. Não sei se me causa angústia por não suportar ou por não querer outra coisa que não aquilo. Não sei se me angustia porque não é o que eu desejava, se me angustia porque cerceia meu pleno desenvolvimento, se me angustia porque é necessário. Sei que me angustia. Não lembro o exato momento em que começou a me angustiar, mas desde então é uma problema que diz respeito ao andamento da minha vida e suspeito que esse tipo de sentimento seja mesmo pertencente ao quadro geral da vida humana em grandes centros urbanos.
Talvez isso se gere pela manutenção de um vínculo entre as pessoas que traga uma instabilidade aos laços, essa insegurança acaba por se responsabilizar pela generalização da angustia. Mas então podemos nos valer de algumas perguntas,ao menos duas: porque aderimos a laços tão traiçoeiros, a vínculos tão estreitos e frágeis?. O que nos leva a nos incorporar em relações que sabemos que nos trarão prejuízos e nos deteriorarão?
Mesmo sabendo que quando nos voltamos para a aproximação de outras pessoas e de outras coisas estamos nos condicionando a aceitar uma certa temporalidade dessas pessoas e dessas coisas sabendo que elas podem vir a se deteriorar. Continuamos a nos voltar para situações que nos instauram preocupação, todos os dias estamos correndo alguns riscos, apesar de querermos sempre amenizar o sofrimento temos constrangimentos pelas condições diversas das coisas. Todos nossos vínculos estão permanentemente ligados a nós por essa temporalidade, que é própria das coisas e das pessoas, acarretando uma temporalidade para as interações. Além da temporalidade temos também como fundamental para o estabelecimento dessas interações a materialidade das realidades, das coisas e das pessoas.
Então cada tipo de laço, de vínculo teria uma temporalidade e substâncias que se correlacionam formando um sistema de significados que dependem das formas que adquirem esses laços. Para cada maneira diferente de laço que se estabelece entre os indivíduos e outros indivíduos e entre as coisas, percebemos um conjunto de significados dados a vontade e de maneira dispersa pela própria realidade das coisas e das pessoas. È preciso então que consigamos em primeiro lugar organizar as informações que são providenciadas pela nossa sensibilidade depois traduzi-las e estabelecer entre elas ligações lógicas que permitam entender os diferentes tipos de relações, comunicações e trocas que ocorra dentro daquele circuito relacional.
Quando ao invés de dar bom dia para o padeiro mando ele tomar no cu estarei de alguma forma interferindo, dentro do sistema de significados que fora garantido por aquela associação que existe entre eu e o padeiro, aquela associação que sempre mantive com ele, estarei então a interagir de maneira depreciativa com um elo já estabelecido, trazendo um tipo de interferência que aproxima a relação estabelecida de seu estado inicial que era a de dispersão pela realidade. Tanto eu como o padeiro não nos conhecíamos, mas por circunstâncias circunscritas dentro de um quadro de possibilidades, foi possível que esse laço se estabelecesse. Então o conjunto de significados que irá conduzir a relação será dado de acordo com o circuito de sentidos que provêm de coexistências múltiplas que tanto o padeiro quanto eu participamos, para então haver uma espécie de simbiose entre eu e ele. Trazendo particularidade para o tipo de laço, por isso é como se esses significados estivesses dispersos na realidade, sendo possíveis de serem absorvidos por qualquer indivíduo que também estivesse circunscrito nas mesmas possibilidades de coexistências. O que vale aqui é a realidade em que estão dispostas as possibilidades de interação, quais são os elementos necessários para a inscrição num circuito relacional.
A autonomia neste momento se volta para a livre apropriação de sentidos que vão conferir a existência sentidos regulares, ordenando de maneira orientada por paradigmas sócio-históricos as interações nas quais iremos interferir. Deve-se ter em mente que podemos a todo instante nos deter sobre outras perspectivas que não as propostas pelo sistema capitalista. A ordem estabelecida vigora como um dogma sem afetar os sentimentos das pessoas, não podemos nos acostumar com uma realidade baseada em princípios vazios e que se tornam obsoletos quando nos voltamos para a concretude das relações que se estabelecem em nome desta suposta organização/ordem. Andando pela rua vemos a mais perfeita desconstrução da obrigatoriedade de submissão as regras e leis que nos impõe os governantes. Como podem seres humanos morrerem de fome, de frio, de dor? Como entender as filas em hospitais que cada dia aumentam mais ? Como compreender o número de desempregados que confabulam sobre alternativas de reinserção social sem ter que depender de um sistema político-econômico que apresenta falhas claras em seu funcionamento? Como podemos acreditar em paródias constitucionais que não provém ao homem as suas necessidades mais rudimentares? Como obedecer governos e governantes, leis e juízos que vão de encontro a valores humanos como a liberdade, a igualdade, o coletivismo, auto-organização e a prosperidade geral dos homens que pisam em terra firme?
Quero desde o primeiro suspiro do dia pertencer aqueles que contemplam as virtudes das coisas procurando-as sobre suas próprias formas sem querer querê-las nem querelas, nem distanciá-las de seu substrato, de sua suma essência. Tenho por mim que só no embarque em busca da compreensão, do sentido e significado das coisas é que conseguirei trazer para minha existência uma satisfação, uma consistência de minha interação com as coisas. Então provavelmente essa angústia cessará.
Tramita pelo congresso da minha razão algo parecido com um lapso, um distúrbio: de um lado a minha vontade de buscar a verdade das coisas, aqueles caracteres que definem o que a coisa é e de outro a penetrante angústia ultrapassa os limites do conforto e acabam por me aproximar do processo de perda de identidade. Sinto-me angustiado por não conseguir penetrar o mais fundo possível em minhas formulações intelectuais conscientes, me deixo gerir pela irradiação de um propósito que me desconcilia de uma busca interior que possa remontar minha personalidade de maneira a me proporcionar um conhecimento de minhas capacidades claramente. Tento compreender o mundo e buscar a verdadeira essência das coisas para me libertar dessas amarras chamadas convenções esteriotipadas.
Temos um mal chamado ordem mundial que não quer mudar e que mantém sob seu julgo multidões de seres humanos que aderem a essas convenções restritivas - que são livremente acessíveis por poucos – mantendo milhões de pessoas dominadas pelo medo, pela ignorância, pela miséria, pelo desprezo, pela disseminação da angústia, pelo uso legítimo da força física. Devemos nos deter sobre a formação de nossa consciência e logo então enfrentaremos o problema da ação com objetivos mais nítidos do que aqueles formulados pelo sistema, não podemos nos deixar levar por pilares que põe em cheque a própria existência da humanidade. Seria como negar a própria vida, a própria capacidade de pensar sobre as coisas. A incapacidade de gerar de maneira autônoma as bases que irão alicerçar nossa ação sobre o mundo é uma motivação do aprisionamento de nossa consciência.
Temos que ir além daquilo que nos propõe os governos, ultrapassar as barreiras que impedem o arranjo popular dos trabalhadores e das massas, temos que gerir de maneira autônoma e refletir constantemente sobre o discurso que julgamos ser o correto, somos indivíduos dotados de razão e como tal precisamos tomar a frente no processo de consolidação de nossos direitos e deveres devemos estar presentes no processo de criação de nossa realidade material. Precisamos nos inserir em fluxos de sentidos e significados que correspondam a realidade de nossas buscas e de nossos objetivos enquanto seres humanos e que tragam para nossa existência a plenitude almejada.